18/03/2007

Manifesto

(Foi muito bom voltar a escrever. Obrigado.)

Mora o silêncio nos túmulos que insistes em cavar na carne.... as línguas das mil cobras moram na tua cabeça ... na nossa cabeça.

Na nossa cabeça que dorme ao lado da língua já morta ... pela ascensão quieta da tua submissão aos outros que não moram em ti. Todos os dias bate revolta no teu coração. Todos os dias ardem os sinos. Todos os dias te penetra a bruma e corre a água pela plácida lua do teu nascimento. Queres foder e amar também como os peixes por onde circula a tua imaginação. No regaço dessa afronta excitas os corpos para depois os apagares ... nas luzes incertas das sombras que não existem... onde estacionas os corpos que passam.

A desonra da vida não está na noite, mas na habilidade que tens em insistir que te habite quando lambes e afloras o sangue humano que em todos bate.


Pum Pum...

Pum Pum...


Puxa a corda que te enforca e sorri placidamente aos segundos que evitas comer do magma inundado de azul. Derrama as vísceras e deixa-te ficar nesse sol que te bate nas pálpebras. Virá Verão sempre um dia mais cedo se souberes pousar a boca no coração e morder as línguas que moram na tua cabeça não são as línguas que choram, nem a tua cabeça, nem sequer o teu coração pendurado. É algo mais antigo que evitas quando dás com os pés no peito e te afundas nas línguas das cobras milenares... são as mil moradas da tua dor que não libertas nas lágrimas que te cegam. Empurra o mar e parte para a terra onde os teus pés repousam. Deixa que o pântano se evapore com o calor da tua pálida chama iluminada. Todo o amor estará em toda a parte à tua espera para que o libertes, finalmente a ilha parirá nas mulheres os poemas navegantes e deixá-las-á partir com o resto dos oprimidos. Talvez não reste ninguém, talvez a ilha se afunde na mágoa sem memória de todos os que aceitaram em silêncio não cultivar os sonhos enluarados...

... talvez fiques sozinho.


Ádia Tuéseu. Vila do Porto, 2006

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